terça-feira, 30 de junho de 2009

Gessy

6 comentários:

Anônimo disse...

Gessy Lima e o Boca Juniors.
Por Roberto Mosmann
09/06/2007-02:43:19


Ele está em todas as seleções de todos os tempos do Grêmio. Mesmo assim, pouco se conhece dele. Vou contar o que sei.

Uruguaiana. Poucas cidades no mundo podem se orgulhar tanto de ter dado a um clube de futebol três jogadores do nível que Uruguaiana deu ao Grêmio. Foram simplesmente: Eurico Lara, Chico (o Chico Aramburu, ponta esquerda da seleção de 50 e até hoje um dos maiores ídolos da historia do Vasco. Foi revelado no Grêmio, onde atuou na década de 40) e Gessy Lima, o CRAQUE PARADOXAL. Coisas e apelidos que os antigos inventavam. Gessy era o craque paradoxal porque, apesar de ser um dos maiores jogadores da história do Grêmio e do Rio Grande do Sul, ele simplesmente não gostava de jogar de futebol. Mas tinha tanta "bola no corpo" que ninguém ligava para isso.

Não vi Gessy jogar (pena), mas vi seu sucessor – João Severiano, o Joãozinho! Bah, o Joãozinho jogava muito, muito mesmo. Chegou à seleção. E aí perguntava para meu pai: "pô o tal Gessy não pode ser melhor que Joãozinho?" E meu pai dizia: "Mas era, sim. E era muito melhor. Foi o jogador mais habilidoso e talentoso que já vi no Grêmio". Meu tio, que era Joãozinho também, concordava.

Os dois diziam que Gessy era um cara que driblava sempre em linha reta, procurando o gol, e era "cerebral". Além de fazer muitos gols, era o "garçom" do time. Dava passes açucarados para Juarez, o Tanque, tornar-se uma lenda viva do Grêmio. Era também o "rei do paninho"(paninho é como a gente chamava aquele driblezinho curto e humilhante, que se dá no espaço de uma lajota) e "rei da janelinha". Não passava um jogo sem que Gessy aplicasse três ou quatro "canetas" nos adversários.

Eu ouvia isso e pensava "caraca! Era bom esse Gessy".

Em 1955, ele veio para o Grêmio, e Foguinho o dispensou. Meses depois, o Grêmio foi jogar eu Uruguaiana, contra o Ferro Carril, e o cônsul gremista de lá apostou com Ari Delgado, dirigente tricolor: "Gessy vai fazer dois gols, driblando Airton (Pavilhão) e Enio Rodrigues". Pois não é que fez? Veio direto para o Grêmio. Jogou de 1956 a 1960 e foi pentacampeão gaúcho (ganhou todos que disputou).

Gessy era estudante de Odontologia (só podia, né? Gessy é famosa marca de creme dental também) e também boêmio. Fumava para caramba (Osvaldo Rolla ficava louco com isso). Em 1959, Gessy tinha provas para o vestibular de Odonto. O Grêmio foi jogar em Montevidéu e, depois, Buenos Aires. Ele ficou fazendo provas. Passou no vestibular e tomou todas. Porém, estava combinado que iria para Buenos Aires enfrentar o Boca. E ele foi. Desceu do avião ainda "mamado". O dirigente Ari Delgado tratou de escondê-lo de Foguinho. Gessy dormiu até a hora da partida. Pois bem: no jogo, ele arrebentou. Fez quatro gols, e o Grêmio ganhou do Boca Juniors de 4 a1. Foi a primeira derrota do Boca na Bombonera para um clube estrangeiro. Esse é mais um dos muitos méritos do nosso Imortal.

Anônimo disse...

Ah! E Gessy foi aplaudido de pé pelos argentinos. Não sabiam ele que, 20 anos mais tarde, aplaudiriam outro craque paradoxal: um tal Diego Armando Maradona!

Em 1960, o Grêmio foi pentacampeão gaúcho e, no quadrangular final, seu ataque demolidor fez 27 gols em 6 partidas (sofreu só 3). Gessy fez 10 e Juarez Tanque, 8. Dezoito dos 27 foram dessa incrível dupla de ataque. Ah! Na final, o Grêmio fez 7 a 0 no Pelotas. Era fraco o Grêmio do Foguinho?

Em 1961 e 1962, Gessy foi jogar na Portuguesa de Desportos. Se formou, então, em Odontologia e abandonou o futebol aos 26 anos. Abandonou mesmo. Não aceitava nem dar entrevistas. E talvez por isso saiba-se tão pouco deste CRAQUE PARADOXAL. O cara que, mesmo não gostando de jogar futebol, transformou-se num dos maiores jogadores da história do clube mais imortal do mundo.

Pois é. Agora, na próxima quarta-feira, o Grêmio começa a decidir mais uma Libertadores. E será contra o Boca, na Bombonera. É mais um desafio imenso para o Imortal. Mas o desafio do Boca também é enorme. Afinal, vai enfrentar o Grêmio. O clube de Gessy Lima. Que podia não gostar muito de jogar futebol, mas sabia fazê-lo como poucos. E sabia calar a Bombonera também.

http://www.finalsports.com.br/colunas_dupla/gremio.php

Anônimo disse...

Segunda-feira, 26 de Março de 2007
O Tempo de Gessy

Quando nas primeiras horas do ano de 1959, Fidel Castro e seu fiel escudeiro “Che” Guevara adentraram vitoriosos pelas ruas de Havana pondo fim à ditadura de Fulgêncio Batista, dava pra perceber que não seria um ano qualquer. Para Gessy, porém, o que importava eram as provas do vestibular para Odontologia. Enquanto acendia um cigarro, naquele janeiro quente e ensolarado, o jovem craque do Grêmio sabia que era peça importante na viagem do time a Buenos Aires. O compromisso era um amistoso contra o Boca Juniors, mas Gessy precisava fazer as provas. E agora? O moço de Uruguaiana pensava em pedir dispensa, que o Foguinho botasse outro em seu lugar. Só que seu Osvaldo Rolla não tinha a menor intenção de liberar Gessy. Ficou decidido que ele faria as provas e no dia seguinte iria para a capital da Argentina, em uma situação emergencial.

Assim como no Brasil, no país vizinho respirava-se democracia. O presidente Arturo Frondizi governava com relativa serenidade e as atenções do povo podiam voltar-se para o futebol. O campeão da temporada seria o San Lorenzo, comandado por um artilheiro fantástico, José Sanfilippo. Isso não quer dizer que a parada seria fácil para o tricolor. O Boca do técnico José “El Charro” Manuel Moreno era uma equipe perigosa e matreira. Julio Elias Mussimessi, “El arquero cantor”, defendia o arco com a mesma habilidade com que vocalizava lindas canções correntinas. Mais à frente, uma linha média de arrepiar: Lombardo, Rattin e Mouriño. No ataque Osvaldo “Motoneta” Nardiello fazia belas tabelas com Javier Ambrois, um uruguaio que ficou famoso também no Brasil, atuando no Fluminense alguns anos antes. Já o Grêmio era o atual campeão gaúcho, e seu ataque com Gessy, Milton, Juarez e Vieira era um verdadeiro ninho de cobras.

Gessy, alheio a tudo isso, sonhava. Seu caráter excêntrico era um complemento perfeito para o seu futebol. Autor de jogadas geniais, nunca deixava que suas façanhas lhe subissem à cabeça. Pouco comemorava os gols. Sua fisionomia era séria, seu pensamento um mistério. Não se sabe se naquele ano foi assistir ao filme “Orfeu Negro”, produção francesa que venceu a Palma de Ouro em Cannes. Embalada com temas de Tom Jobim , Antonio Maria e Vinícius de Moraes, essa história de amor tinha também a participação de Breno Mello, jogador de futebol campeão gaúcho com o Renner em 54. O último ano daquela década ainda traria consigo o desaparecimento de Heleno de Freitas, assim como Gessy, um craque de temperamento forte. E Billie Holiday partiria vítima de cirrose hepática, após breve período em um hospital no Harlem. Mas isso seria mais tarde. Por enquanto, o ano estava apenas começando, e Gessy só pensava no vestibular. Queria ser dentista e poder tomar sua cervejinha em paz. É claro que ele gostava do Foguinho, do Milton, do Juarez e de todo o ambiente do Grêmio. Mas sua decisão já estava tomada. Largaria o futebol para dedicar-se à odontologia.

Anônimo disse...

Chega o dia do jogo. Mesmo de ressaca, Gessy desembarca em Buenos Aires e participa da peleja. De ressaca? Sim, afinal ele havia passado nas provas e uma comemoração foi inevitável. Seu marcador foi Rattin. Antonio Ubaldo Rattin, uma das bandeiras do Boca de todos os tempos, um caudilho tenaz na marcação e distribuidor do jogo, como deveria ser o número 5 de então. Alguns anos antes, na sua estréia pelo clube azul e ouro, o jovem Rattin é figura de relevo contra um River Plate cheio de craques como Labruña, Nestor Rossi e Sívori. Mas Gessy não tinha vindo de tão longe para pouca coisa. Com quatro gols seus, o tricolor gela a Bombonera, fechando um capítulo de antologia dentro do nosso futebol.

O ano segue. Surge o Aimoré de Carlos Froner: Suli, Soligo, Afonso, Toruca e Carlos; Mengálvio e Fernando; Telmo, Marino, Abílio e Gilberto Andrade. Em Nova Iorque, o sueco Ingemar Johansson derrota Floyd Patterson por nocaute no terceiro assalto, e é o novo campeão mundial na categoria peso-pesado. E Gessy continuaria a marcar gols sensacionais e a fazer jogadas estupendas, até cumprir sua promessa e encerrar a carreira com apenas 26 anos de idade.

Lucio Saretta

http://gremiolibertador.blogspot.com/

Anônimo disse...

Nota do Autor:

Excelente os textos.
Obrigado!

Jair Bernardes disse...

Ué, outro Gessi?!?!?!